Pular para o conteúdo principal

A morte de Solano Lopez






Dá-se em 1° de março de 1870, a última batalha da guerra do Paraguai, da qual participa o marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro Corá, às margens do rio Aquidaban, proximidades de Ponta Porã. Tropas comandadas pelo general Câmara travam o decisivo combate do conflito que durou cinco anos. O tenente-coronel Jorge Maia, veterano dessa guerra, dá notícia detalhada dos últimos minutos do presidente Solano Lopez, já ferido no ventre em confronto com tropas do coronel Joca Tavares:

Assim, tão gravemente ferido, López desistiu da inútil resistência, e, já no trilho limpo da macega, pelo trânsito, põe o cavalo a meio galope para ganhar o mato, boca da picada, que tinha cerca de 30 m. Foi nessa ocasião que o cabo Lacerda disse aos oficiais:

 
Foi lanceado na barriga.
Tudo isso se passou em poucos minutos.


(...) Foi nessa ocasião que chegou o general Câmara e perguntou:
Que é do Lopez? E os oficiais do Estado Maior do Coronel Joca Tavares, que ali se achavam, responderam:


Entrou aqui, apontando-lhe a boca da picada; ao que acrescentou o cabo Lacerda:


Lanceado na barriga.


O general Câmara não ligando a esse incidente a menor importância, apeou-se, e, com ele diversos oficiais do seu Estado Maior; penetrou na picada, que, como já vimos, era curta, e, chegando a barranca do arroio, viu Lopez metido na água, na posição já descrita. Não será demais repetir que o arroio nesse lugar tinha cerca de 5 m de barranco a barranco e cerca de 4 m de água, com cerca de 0,60 m de profundidade e o barranco na margem esquerda, onde se achava o general Câmara com outras pessoas, cerca de 0,60 m de altura. Nessa ocasião já haviam chegado praças do 9º. Batalhão de Infantaria, entre eles o soldado do norte, Francisco Fernandes de Souza, que parou ao pé do barranco, do lado esquerdo da picada, com arma descansada, olhando para Lopez.


O general Câmara ao chegar à beira do barranco, que, como já disse, tinha cerca de 0,60 m de altura, postou-se à direita da picada e dali o intimou:
Renda-se, Marechal!


Lopez, já sentindo a morte que dele se apoderava, lançou ao general um olhar que traduzia toda a tempestade de horror e de ódio que lhe iam na alma, prestes a abandonar o corpo. (...) Não podendo mais suster o espadim na atitude em que tinha, pela extrema fraqueza, largou-lhe a ponta da mão esquerda, e, deixando pender e cair para a direita, talvez em inútil ameaça, segurando, porém, os copos do espadim, e voltando de novo a cabeça, pela última vez para o general Câmara, com expressão medonha, disse:

 
Muero com mi pátria.

 
O general Câmara supondo que Lopez o queria agredir, pois não conhecia a natureza do ferimento nem o seu estado, ordenou:


Desarmem esse homem. Ouviu-se então, no mesmo instante, o estampido de um tiro disparado pelo soldado de Infantaria, Francisco Fernandes de Souza, nas costas do morimbundo, que já pendia para cair de bruços. 



FONTE: Jorge Maia, A invasão de Mato Grosso, Biblioteca do Exército Editora, Rio, 1964, página 306.
FOTO: Chico Diabo atinge Lopez. Reprodução de Semana Ilustrada (RJ) 27 de março de 1870. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ataque ao forte Coimbra

Em 27 de dezembro de 1864, sob o comando coronel Vicente Barrios, as forças de invasão de Solano Lopez, protegidas por denso nevoeiro, se aproximam da fortificação brasileira no rio Paraguai e somente “quando a fumaça das chaminés dos navios foi avistada pelas sentinelas, Coimbra tomou conhecimento do avanço paraguaio”. A frota de Barrios, segundo Carlos Francisco Moura, “capitaneada pelo Igurey, era formada por 5 vapores e 5 grandes embarcações a reboque e totalizava 39 canhões de bordo. Vieram a reboque também balsas-curral com gado para o abastecimento da tropa e cavalos. As tropas de combate formavam 4 batalhões, num total de 3.200 homens. Traziam também 12 peças de campanha”. As forças de Coimbra, ainda conforme o mesmo autor, a “artilharia era constituída de 31 canhões velhos, dos quais apenas 11 estavam em condições de atirar, mas como o número de artilheiros era insuficiente, só 5 podiam ser manejados. Ao amanhecer, o comandante brasileiro recebe o seguinte ulti...

A morte do barão de Antonina

  Morre em 18 de março de 1875, aos 93 anos em São Paulo, João da Silva Machado, o barão de Antonina. Um dos fundadores do Estado do Paraná e senador por esse Estado desde 1854, seu falecimento provocou o maior pendenga jurídica, visando seu riquíssimo virtual espólio fundiário, que abrangia praticamente todo o Sul de Mato Grosso: seus herdeiros contra o Estado. Estes de posse de escrituras, declarações ou de qualquer prova tentando reaver propriedades das quais seu antigo suposto dono em verdade as requereu, mas nunca tomou posse, e o Estado, no governo de Pedro Celestino, atendendo o interesse público e o direito dos atuais proprietários. A questão Antonina teria desfecho apenas 25 anos depois com a derrota dos herdeiros do barão na justiça.  FONTE : J. Barbosa Rodrigues, História de Mato Grosso do Sul , Editora do Escritor, São Paulo, 1985, página 100. Para conhecer outros fatos históricos do dia CLIQUE AQUI!

Tomada da fazenda Machorra

Na guerra do Paraguai, a força expedicionária brasileira, em ação no Sul de Mato Grosso, toma do exército inimigo em 20 de abril de 1867, a sede da fazenda Machorra, localizada em território brasileiro, à margem direita do rio Apa, em sua marcha com destino à ocupação da fazenda Laguna em território paraguaio. O relato é do próprio comandante das tropas brasileiras, coronel Camisão, na seguinte ordem do dia: Tenho a honra e orgulho de participar a V.Ex. que no dia 20 do corrente à frente da briosa coorte de soldados que comando, transpus o rio Apa, ocupando o forte de Bela Vista, cujas casas e edifícios os paraguaios com a nossa chegada trataram de incendiar, havendo destruído todas as suas plantações e lançado no rio muitos objetos que estão sendo retirados. Saindo da colônia de Miranda no dia 15, e levando comigo os fugitivos que ali se tinham apresentado vindos do Paraguai, com três dias de marcha cheguei ao rio Apa, acampando no lugar de uma antiga casa denominada por...