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Roosevelt em Cáceres





Tendo deixado Corumbá na noite de Natal chega a Cáceres a 5 de janeiro de 1913, a expedição Roosevelt-Rondon, que se destina à Amazônia Matogrossense. A chegada e permanência da comitiva na cidade, ganhou uma página no diário do ex-presidente norte-americano:

Na tarde do dia 5 alcançamos a linda e antiquada cidadezinha de São Luiz de Cáceres, nos confins da região habitada do Estado de Mato Grosso, e última cidade que veríamos antes de alcançarmos as povoações do Amazonas. Nas suas proximidades passamos por uma lavadeira preta e seminua nas margens do rio. Os homens, com a banda de música local, estavam agrupados no começo da ladeira íngreme da rua principal, onde o vapor atracou. Grupos de senhoras e moças claras e trigueiras olhavam-nos do mirante, seus vestidos e corpetes eram vermelhos, azuis, verdes, de todas as cores...Sigg, que nos havia precedido com a maior parte da bagagem, veio ao nosso encontro com uma lancha de motor improvisada - uma espécie de chalana a que ele adaptou o nosso motor "Evenrude"; estava proporcionando a diversos cidadãos da localidade delicioso passeio fluvial. As ruas da pequena cidade, desprovidas de calçamento, tinham passeios estreitos, de tijolos. As casas, de um só pavimento, eram brancas ou azuis, com telhas vermelhas e postigos de grades de madeira, de velho estilo colonial, copiado pelos cristãos e mouros de Portugal dos seus antepassados árabes.

Belos rostos, uns morenos, outros claros, olhavam das janelas; suas avós, em passadas gerações, deviam ter olhado também de janelas semelhantes em remotos dias coloniais. Mas, agora, mesmo ali, em Cáceres, o espírito do Brasil novo despertava; uma ótima escola oficial foi inaugurada e tivemos o prazer de conhecer o seu diretor, homem dedicado que realizava excelente trabalho, e era um dos muitos professores que, no decorrer desses últimos anos,vieram de São Paulo, centro do novo movimento educativo que muito tem feito em prol do Brasil.

O padre Zahm foi passar a noite com os irmãos franciscanos franceses, seus colegas de Ordem. Eu dormi na residência confortável do Tte. Lira: uma casa tropical com paredes espessas, grandes portas e vasto alpendre com grades. O Tte. Lira seguiria conosco na expedição; era velho companheiro de excursão do Cel. Rondon. Visitamos uma ou duas lojas para fazer as últimas compras e à noite perambulamos pelas ruas escuras e jardins da praça; as senhoras e moças se aglomeravam nas portas da rua ou nas janelas, e de espaço em espaço um instrumento de cordas ressoava na escuridão. De Cáceres para diante estávamos entrando no cenário de atuação do Cel. Rondon. Durante dezoito anos ele se dedicara à exploração e instalação das linhas telegráficas através da parte este e nordeste do grande estado florestal, o estado das selvas,ou do "mato grosso" ou, como diriam os australianos, o "bosque".

FONTE: Theodore Roosevelt, Nas selvas do Brasil, Editora de Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976, página 94. 

FOTO: acervo Theodore Roosevelt.

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