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Tomada da fazenda Machorra








Na guerra do Paraguai, a força expedicionária brasileira, em ação no Sul de Mato Grosso, toma do exército inimigo em 20 de abril de 1867, a sede da fazenda Machorra, localizada em território brasileiro, à margem direita do rio Apa, em sua marcha com destino à ocupação da fazenda Laguna em território paraguaio.

O relato é do próprio comandante das tropas brasileiras, coronel Camisão, na seguinte ordem do dia:

Tenho a honra e orgulho de participar a V.Ex. que no dia 20 do corrente à frente da briosa coorte de soldados que comando, transpus o rio Apa, ocupando o forte de Bela Vista, cujas casas e edifícios os paraguaios com a nossa chegada trataram de incendiar, havendo destruído todas as suas plantações e lançado no rio muitos objetos que estão sendo retirados. Saindo da colônia de Miranda no dia 15, e levando comigo os fugitivos que ali se tinham apresentado vindos do Paraguai, com três dias de marcha cheguei ao rio Apa, acampando no lugar de uma antiga casa denominada por isso tapera. Aí avistou-se uma partida inimiga, a qual, perfeitamente montada, e conhecendo desde logo a nossa falta absoluta de cavalaria, procurou vir nos observando, até que consegui fazê-la fugir em debandada com três tiros de granada da excelente artilharia que levam estas forças. No dia 20 ocupei o ponto denominado pelos paraguaios – Machorra – junto ao córrego de José Carlos, onde se achava formada uma vasta fazenda, protegida por um destacamento que fugiu aos nossos primeiros tiros, com boas casas e grandes dependências no terreno à margem direita do Apae no dia seguinte entrei no forte Bela Vista, que, ao nosso aproximar foi desamparado pela sua guarnição, a qual retirou-se apressadamente, apesar do excelente local que tinha para uma defesa heróica. Ainda diante de nossos postos avançados acham-se, à boa distância, alguns cavaleiros, parecendo procurar observar o movimento das forças, os quais serão afugentados pelo mesmo meio que já pus em uso. No estado em que se acham as coisas, tenho, confiado na coragem que todos os meus comandados patenteiam, o desejo de avançar até a vila da Conceição a trinta léguas daqui, onde eu estabeleceria a artilharia sobre a barranca do rio Paraguai, para incomodar aos vapores que passarem com direção à Coimbra e onde se reuniriam não só os quinze brasileiros que acham-se ocultos em matas, como numerosas famílias prisioneiras em pontos próximos; entretanto, a questão de recursos me tolhe os passos, pois me acho sem gado nem cavalhada, a 26 léguas de Nioac, onde está o depósito pouco provido de mantimentos que ali criei. Farei todos os esforços para ver se consigo o meu intento e se levo ao cabo a empresa gloriosa, bem que árdua, que me foi confiada.


FONTE: Taunay, A Retirada da Laguna, (14ª edição brasileira), Edições Melhoramentos, S.Paulo, 1942, página 151.

FOTO: O Globo. Meramente ilustrativa.

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