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Coluna chega a Nioaque


Homenagem a Taunay, em Nioaque
A força expedicionária brasileira, em retirada da fazenda Laguna, no norte do Paraguai, chega finalmente a Nioaque, em 3 de junho de 1867. O povoado havia sido abandonado dois dias antes pela defesa brasileira, receosa de um ataque inimigo e ocupada pela cavalaria paraguaia, que durante toda a marcha, vanguardeou os retirantes:

Esta bonita povoação, abandonada, ocupada e pela segunda vez, desde o início da guerra, devastada, convertera-se num montão de destroços fumegantes. O grande galpão que outrora nos servira de armazém de mantimentos e ainda achamos de pé, sobre os esteios incendiados, mostrava renques de sacos que nossa gente, sem dúvida, não tivera tempo de carregar e já serviam de pasto ao incêndio. O arroz e a farinha carbonizados, exteriormente; o sal, gênero esse tão escasso e precioso no interior do país, negrejara e fundia sob as nossas vistas.


Aqui e acolá jaziam muitos cadáveres, todos de brasileiros. Constatamos que muitos desses infelizes mortos haviam servido em nossas fileiras. Desertando por ocasião do exacerbamento de nossas misérias, e morrendo de fome pelas matas, haviam se apressado, embora correndo o perigo de serem reconhecidos, em tomar parte do saque.
Fora um deles, de pés e mãos amarrados, sangrado como um porco. Jazia outro, crivado de feridas, e uma velha estirada a seu lado, de goela aberta e seios decepados, nadava no próprio sangue.

Foi quase toda a coluna acampar por esta noite atrás da igreja, sobre o grande terrapleno que descrevemos e onde, escalonados com os canhões nos ângulos, para maior segurança contra o inimigo, nos apoiávamos à mata do rio. Ali, gozamos, enfim, um pouco de verdadeiro descanso. Dupla e tripla ração se distribuiu; permitiam-no as circunstâncias; sentia-se o comandante feliz por contentar os soldados, quanto possível. Pela primeira vez e desde muito, podíamos contar com o dia de amanhã. Restavam-nos, apenas, para nos por fora de qualquer perigo eventual, fazer quinze léguas, a caminhar por excelente estrada, de Nioac ao Aquidauana, onde éramos esperados. E para tal marcha tínhamos víveres sobejos.


FONTE: Taunay, A retirada da Laguna, 14a. edição, Edições Melhoramentos, S. Paulo, 1942, página 134.

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